É que quando eu cheguei por aqui, eu tudo entendi...
Viver bem. O que significa isso? Obviamente a resposta depende de a quem se dirige a pergunta. Há quem diga que o bem viver significa estar em paz, gozando de boa saúde e boas relações. Há outros para os quais a realização do conceito envolve a posse de determinados bens. A subjetividade do conceito é seguramente fruto da disparidade do histórico econômico-afetivo-social de cada um. Pessoalmente, me identifico mais com os primeiros, cuja noção de uma vida boa está baseada em fatores intangíveis.
Sinto que minha vida hoje ilustra bem os anseios e aspirações de minha geração. Aquela composta por adultos nascidos entre 1981 e 1996 e que convencionou-se rotular pelo termo “Millennials”. Em busca de qualidade de vida que se expressa mais em SER do que TER, mudei-me de país e abri mão de almejar casa própria, carro do ano e prestígio baseado em relações sociais de longo prazo. Hoje oriento minhas decisões pela premissa básica de que, para crescer e prosperar, preciso estar exposto a estímulos que correspondam a meus objetivos pessoais. Urbano como sou, não podia encontrá-los onde vivia.
Podemos comparar a decisão de tornar-se nômade com um salto de paraquedas. Se você se preparou, sabe que pode curtir a experiência com segurança. Mas o fato é que nem o plano mais detalhado elimina o medo de deixar para trás o familiar para ir em busca do desconhecido. Assim mesmo, o meu conselho para aqueles que se sentem contagiados pelo vírus nômade é: VÁ EM FRENTE! Depois do salto, você experimentará a mais pura sensação de contentamento e liberdade.
Não é dizer que a estabilidade de um endereço fixo não representa nada. Percebo que muitos nômades mantêm ainda raízes firmes em algum lugar de algum modo. Mas se você assim como eu sofre de uma curiosidade irremediável pelo mundo, dificilmente conseguirá saciá-la em um lugar limitante.
A cidade que escolhi para viver neste momento foi Buenos Aires pelo fato óbvio do câmbio favorável a um pobre professor de inglês brasileiro e aqui fico enquanto se manter essa condição. Mas além do quesito econômico, viver aqui significou a realização de um sonho que surgiu há 18 anos ao ver o filme O Filho da Noiva com Ricardo Darín (recomendo qualquer filme com o ator). Desde então, a fascinação com a cidade só cresceu e visitá-la pela primeira vez foi como chegar em casa.
Muito se fala de Buenos Aires como uma cidade latina com ares europeus. Sim, os fatos correspondem: a arquitetura (muito mais preservada que no Brasil), os vinhos, a culinária, o clima, o sotaque característico (me parece um italiano que aprendeu espanhol e está impressionado com sua própria capacidade de comunicar-se fluentemente). A diferença para mim é que Buenos Aires não tem a opressão intimidante de uma capital Europeia. É uma cidade acolhedora e humilde, além de muito mais segura que as capitais brasileiras. Onde no Brasil é possível sentir-se tranquilo caminhando tarde da noite com o celular no bolso?
É a cidade que me faz vibrar e que trouxe de volta a juventude. Às vezes não faço nada mais que caminhar por horas sem rumo (é difícil se perder numa cidade tão bem planejada). Aqui pude confirmar que o essencial para viver bem não custa caro. Se vou ficar por meses, anos, ou décadas é algo incerto. Por ora só posso afirmar que tomei uma decisão acertada e que certamente vale muito mais a pena preencher a alma com experiências do que com coisas. Recomendo fortemente que façam o mesmo.
P.S. Aconselho ignorar o noticiário e ver com os próprios olhos a realidade do país.